terça-feira, 26 de abril de 2011

Núcleo de Práticas Discursivas e Produção de Sentidos

História do NPDPS

Criado em 1988, o Núcleo Práticas Discursivas e Produção de Sentidos passou por três fases muito distintas, demarcadas 
por reorientações teóricas: a ênfase na saúde coletiva, a teoria das representações sociais e a psicologia discursiva. 
Esta breve apresentação busca pontuar essas mudanças. Propõe-se, também, a apontar algumas permanências, entre elas 
o foco na saúde coletiva, que faz convergir a perspectiva política do Movimento Sanitarista brasileiro e a definição a
mpliada de “saúde”, possibilitando acomodar pesquisas que abarcaram desde os agravos à saúde física e mental aos 
repertórios disponíveis para pensar e “governar” a saúde das populações.

Primeira fase: a pesquisa na área da saúde 
Ao integrar o quadro docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia 
Social em 1988, a Professora Mary Jane Spink iniciou os encontros de quartas-feiras sobre pesquisas e formas de atuação 
na área da saúde. Vinda de uma trajetória de pesquisa em Saúde Pública, buscava, neste espaço, incrementar a discussão 
sobre a perspectiva crítica de organização e prestação de serviços públicos de saúde. Muitos professores e pesquisadores 
de outras instituições foram convidados a participar dessas discussões, entre eles o Dr. José Rocha Carvalheiro, da Secretaria
de Estado da Saúde, e o Dr. Everardo Nunes, do Departamento de Medicina Coletiva da Faculdade de Medicina da 
UNICAMP. São representativas desta fase as seguintes teses e dissertações: Débora Glina (Doutorado, 1996), Da 
possibilidade de enfrentamento do risco ocupacional: a produção de sentido do trabalho exposto ao mercúrio metálico; 
Jacqueline Machado (Mestrado, 1994), A construção de significados de uma doença crônica: a artrite reumatóide; 
Maria da Penha Vasconcelos (Mestrado, 1992), A doença mental acima de qualquer suspeita: Franco da Rocha e a prática 
psiquiátrica na cidade de São Paulo; Iracema Ferrigno (Mestrado, 1990), Um estudo sobre os terapeutas ocupacionais 
como agentes transformadores da profissão.
Dos encontros das quartas-feiras, surgiu a idéia de publicar uma coletânea de artigos que situasse a perspectiva da saúde coletiva na Psicologia Social. Sob a competente organização de Florianita Braga Campos, que havia obtido seu título de Mestre no Programa de Psicologia Social em 1989, o livro incluiu textos de Rosalina Carvalho da Silva e Leni Sato, ambas com trajetória marcada pela perspectiva crítica associada ao Movimento Sanitarista brasileiro. Embora esgotado, este livro é, ainda hoje, referência para a pesquisa psicossocial em saúde.
                                                      
Repensando a prática da Psicologia Social no campo da saúde

A presença do Núcleo nos eventos de Saúde Pública/Saúde Coletiva

Escolhemos esta foto por ser emblemática das permanências que se fizeram presentes na história do Núcleo: o foco continuado nos processos de saúde/doença. Este foco oscilou entre a “grande angular” (a organização dos serviços, as políticas de saúde pública) e os micro-processos de produção de sentido no enfrentamento da doença. Essas idas e vindas entre os níveis macro e micro certamente enriqueceram a reflexão continuada sobre os fenômenos da saúde. Nesta foto estão presentes: José Esparza, virologista do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) e especialista em pesquisa para o desenvolvimento de vacinas para o HIV, cuja presença aqui pontua a inserção do Núcleo na pesquisa em Aids; Rosalina Carvalho da Silva, colaboradora do Núcleo desde 1988, e Mary Jane Spink, que foi pesquisadora principal da área sócio-comportamental do Projeto Bela Vista (1994-1998), estudo de incidência do HIV entre homens que fazem sexo com homens, e é membro da Comissão Nacional de Aids. Várias dissertações de mestrado do Núcleo abordaram aspectos da epidemia de aids, entre elas: Maria Cecília Roth (1994), Madalena lave as mãos senão você vai pegar aids: a representação da aids em crianças de 6 a 7 anos; Eliane Costa Dias (1999), Entre o desejo e o risco: os sentidos da gravidez na assistência à aids; Drauzio Camarnado (2000), Prevenir é melhor que remediar? Os sentidos das práticas preventivas para profissionais de um serviço de orientação e Prevenção em DST/Aids; Helena Lima (2000), Ah, mas eu não sou do grupo de risco! A prevenção às DST/Aids entre jovens universitários de São Paulo, capital


Segunda fase: a hora e a vez das representações sociais
Em 1992, o Núcleo passou a ser chamado de “Núcleo de Estudos sobre as Representações de Saúde e Doença”. A nomeação responde ao crescente interesse pelos processos de produção de sentidos no cotidiano, tema que encontrou seu principal interlocutor no grupo de pesquisadores europeus sobre representações sociais. O cartão postal mostra a vista que se tem do alto da cidadezinha de Ravello, no golfo de Nápoles, local do Primeiro Encontro Internacional sobre Representações Sociais, realizado em setembro de 1992. Este evento, com poucos participantes e em lugar privilegiado por sua beleza, propiciou a amizade com muitos dos pesquisadores em representações sociais. São exemplos de dissertações desta fase do Núcleo: Belkis Trench (1992), De fora para dentro, de dentro para fora: estudo sobre as representações da loucura nas vizinhanças do Hospital Psiquiátrico de Vila Mariana; Ricardo Pimentel Mello (1994), Representação social dos direitos de exploração e uso do solo: um estudo psicossocial da violência na região sul do Pará; Zoica Bakirtzief (1994), Águas passadas que movem moinhos: as representações sociais da Hanseníase.

Aglutinando pesquisadores brasileiros da área de representações sociais


O conhecimento no cotidiano marca a inserção do Núcleo na rede de pesquisadores brasileiros que compartilhavam interesses temáticos e teóricos associados à pesquisa em representações sociais. Além de autores paulistas (Silvia Lane, Bader Sawaia, Ana Bahia Bock, Leni Sato, Maria Alice Leme e Mary Jane Spink), o livro inclui pesquisadores de outros estados do país: Rio de Janeiro (Celso Sá, Solange Souto, Ricardo V. de Castro e Ângela Arruda), Santa Catarina (Clélia Nascimento-Schulze), Brasília (Edson A. de Souza Filho) e Rio Grande do Sul (Neuza Guareschi).



A transição para a Psicologia Discursiva
Desde 1996 o Núcleo vinha criticando a abordagem teórica e metodológica das representações sociais (TRS). Muito embora as relações de amizade tenham sustentado as tensões decorrentes dos questionamentos, o afastamento gradual intensificou-se a partir de 1997. Esta alegre foto, tirada durante a Jornada Internacional sobre Representações Sociais realizada em Natal, em 1998, marca a passagem para uma nova fase. Como registro, vale apontar algumas presenças notórias: Rob Farr, Pedrinho Guareschi, Gerard Duveen, Denise Jodelet, Maria Auxiliadora Banchs, Celso Pereira de Sá e Ângela Arruda,

Terceira fase: nova fase, novo livro


O novo nome (Núcleo de Pesquisa sobre Práticas Discursivas e Produção de Sentidos) deixa explícito o movimento teórico que tem por marco um novo livro. Entretanto, enquanto nas fases anteriores o livro publicado pontuava a inserção do Núcleo numa rede de saberes e fazeres, nesta etapa ele resulta de sua produção interna. Sendo produto do processo de crítica à TRS, o livro marca a opção epistemológica pela abordagem construcionista. Entretanto, não se trata de obra ensimesmada: resultou do intercâmbio com colaboradores e simpatizantes de várias instituições que se deslocaram à PUC para discutir, nas acaloradas reuniões das quartas-feiras, os vários capítulos desta coletânea. Entre eles, Marisa Japur, da USP de Ribeirão Preto, e Oswaldo Tanaka, da Faculdade de Saúde Pública da USP. São exemplos da produção do Núcleo nesta vertente teórica as seguintes teses e dissertações: Odette de Godoy Pinheiro (Doutorado, 1998), O sentido das queixas de usuários de um serviço de saúde mental: uma análise discursiva; Vera Menegon (Mestrado, 1998), Menopausa: imaginário social e conversas do cotidiano; Carlos Passarelli (Mestrado,1998), Amores dublados: linguagens amorosas entre homens no filme La ley del Deseo; Benedito Medrado (Mestrado,1997), O masculino na mídia: repertórios sobre masculinidade na propaganda televisiva brasileira.

 
As novas alianças

Esta foto foi tirada durante o Seminário sobre Construcionismo e Memória Social, ministrado pelo Professor Lupicínio Iñiguez da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e realizado na PUC-SP em 2000. Lupi, como é por nós carinhosamente chamado, tornou-se pessoa-chave na ponte que vimos construindo paulatinamente entre o Núcleo e a Unitat de Psicologia Social da UAB. Vários dos alunos na foto estiveram presentes no I Encontro Internacional de Doutorandos, promovido pela UAB em 2000, e dois deles (Maria Auxiliadora Ribeiro e Benedito Medrado) fizeram o “sandwich” nesta instituição.

Buscando fortalecer a rede construcionista

Este é o “mosquitinho” desenvolvido por integrantes do Núcleo para anunciar uma reunião sobre as questões construcionistas durante o XI Encontro Nacional da ABRAPSO, realizado em Florianópolis, em novembro de 2001. Integrado por pessoas de vários estados do país (Ricardo Pimentel, Pará; Rosineide Cordeiro, Dolores Galindo e Benedito Medrado, Pernambuco; Jefferson Bernardes, Rio Grande do Sul, entre outros) começa aqui a emergir a necessidade de buscar formas criativas de continuidade das discussões sobre aspectos teóricos e metodológicos de interesse para o grupo, que não dependam da presença física nas reuniões das quartas-feiras. Quem sabe anuncia-se aí uma nova fase?